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segunda-feira, 4 de junho de 2012

Retalhos antigos 2

SAUDADE

Saudade.
Ausência daquele quê que me envolvia e me fazia tão mulher.
Tudo era tão intenso e por isso mesmo tão perto da morte. Morte do nosso tempo.
E entre um ágape e outro, quanta história, quanta memória farta de sedução.
Os olhos ainda brilham, mas se esqueceram que eram narcisos e não se procuram mais.
Aquela cumplicidade toda, agora se dilui. É como se um ácido ousasse corroer o que havia de mais eterno. É como se aquele vulcão fingisse se tornar um sopro falho de calor. É como se eu engolisse o desaforo do mundo. E engolida não posso sequer falar. Calar é o meu desespero. O que me resta é aquele resto de olhar, que tímido esqueceu-se de toda emoção. Esquecemos um do outro. Esqueci de dizer o quanto amei. Amei-te. Em meio a tanta loucura pensei estar explícito o que para mim era a única verdade. Esqueci, mas esqueceu-se também. Esqueceu-se do abrigo, do afago, do mundo que despejei sobre teus pés e era a ti destinado. Esqueceu-se de tentar vingar aquela semente cujas raízes afundaram.
E nossa amizade, tão sincera, foi a mais esquecida e enterrada. Agora jaz numa rua sem esquina. Sem uma quilha que a faça retornar. Não há chance de sobrevivência. Os pássaros do acaso não ousam mais pousar sobre meus ombros. Um grito abafado ecoa e se perde na madrugada vazia. Vampira noite que me engole, gole a gole, e me embriaga de lucidez.
A noite e eu num ágape de solidão.
A noite provocando prazeres e desenhando com estrelas uma realidade mais colorida, de onde provém fluidos únicos de bem-estar e um estado quase feliz.
Sem você, mas quase feliz.
Sem você, mas pela primeira vez, plena de mim.

(década de 90)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Cantiga de amor

Um dia de apresentação. Olhos atentos, surpresas vindouras. Magia no ar. E tem início aquele que foi um espetáculo de arte, de beleza, de textos indizíveis. Um espetáculo que representou com tantos sentimentos, os olhos e os corações de seis amigos. Vinte e um anos se passaram. Os amigos seguiram seus rumos. Suas estradas que, agora, novamente se cruzam. Incrível vida que sempre nos dá uma segunda chance. E um novo encontro acontece validando a máxima de que a afinidade não conhece limites, nem barreiras, nem o tempo. Ela é um laço que se fortifica também mediante os obstáculos. Ela floresce a cada respingo de saudade. E transborda a cada movimento de união. Seis amigos que estiveram sempre unidos. Sempre. Por laços invisíveis, por sonhos comuns. Agora é hora de fazer esse espetáculo de novo. É hora da chuva florescer a terra que ficou tão árida de ausências. E encantar platéias novamente com tanta poesia.
"Do que partiu é saudade. O que ficou é lamento. Tudo sob sol forte, que nem alivia o vento. Espero que volte João. E fico com toda a dor. Dor que é mais forte no peito. Maior inté que o calor. Já que não vejo e sinto. Feito cantiga de amor."*

*Texto extraído da peça "O Sertanejo", de autoria de Helder Martins, 1990.