quinta-feira, 27 de junho de 2013

Era uma vez uma menina.


Era uma vez uma menina que entrou na minha vida. 
Ela tinha 4, quase 5 anos. E desde a primeira vez que a vi fiquei encantada. E foi recíproco. Aqueles olhinhos curiosos me olhavam de cima a baixo, como a desvendar uma novidade. E sempre havia muito carinho. Sempre havia muito sorriso. Sempre havia muitas perguntas. Inquieta e atrevida, não aceitava qualquer argumento. Conversar com ela era um ótimo exercício de afinar a retórica. Renovar-se. Oxigenar-se. Na sua infância foi plena, absoluta. Foi lindamente criança que tem asas nos pés. Adolesceu. Tornou-se jovem. E aquelas asas nos pés continuavam ali. Era como se parar fosse um crime. Num combustível de fazer inveja a qualquer um. Tinha pressa. E nem sabia porque. Estudos, viagens, projetos, peças, ensaios. Há pouco tempo fui vê-la no teatro. Sua atuação irretocável me comoveu muito. Uma atriz e tanto. Uma jovem e tanto. Que levantava bandeiras e lutava por um mundo melhor. Que não se calou. Que procurou fazer sua parte. E nos deixou muitas heranças. Muitas.
No último dia que nos vimos, com toda a sua doçura ela me disse:
- tia, eu cresci, mas pra mim você será sempre a tia Pat.
Os olhinhos brilhantes daquele dia não me saem da cabeça. Não sabíamos, nem eu, nem ela, mas aquela era uma despedida. Não posso mais vê-la com esses olhos terrenos. Mas continua forte toda essa Carolina que reverbera em mim com tanto impacto.
É, suas asas nos pés agora te levaram longe.
E sua passagem em nossas vidas nos fez muito melhores.
Pode ter certeza Carol.
Era uma vez uma menina que ficou na minha vida.