segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Estiagem poética




Olho lá fora e a grama está esturricada.
Olho cá dentro e minha retina não muda essa paisagem de sertão.
Olho lá fora e vejo excesso de folhas secas deitadas ao largo.
Olho cá dentro e meu escasso repouso não encontra chão.
Lá fora o vento uiva e convida a bailar as últimas flores dos ipês.
Cá dentro a canção não se faz com uma nota só.
Lá fora a luta insana do que não pode ser.
Cá dentro as cinzas ainda em brasa.
Lá, seca.
Cá, estiagem.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Pé de sol





Eu quero mesmo é um pé de sol. Irradiando calor nas manhãs cinzentas. Transformando em luz os escuros do peito. Removendo o ácaro das prateleiras mentais. Germinando meus pensamentos ainda em semente.
Quero um pé de sol no meu quintal. Fazendo fotossíntese na minha alma. Transformando em energia o que precisa florescer. Quebrando o gelo. Queimando os papéis velhos. Reluzindo os sonhos por vir. 
Meu pé de sol, é chegada a hora da colheita.
E como um girassol te sigo.
Me abraça forte ... e me renova a sorte.

v i d a



A vida é cheia de surpresas. Sustos. Espantos.
A vida é cheia de alegrias. Sorrisos. Gargalhadas.
A vida é cheia de dores. Lamentos. Lágrimas.
A vida é cheia de dúvidas. Questões. Interrogações.
Vida é assim.
Antes cheia que vazia.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Reticências poéticas

Chegou o tempo da seca esturricante. Que incendeia nossos dias com umidades tímidas e vento cortante. Uivantes sentimentos contraditórios. Mas como não pensar em poesia quando me deparo com pinturas amarelas salpicadas na aridez da minha cidade? No auge da seca ele floresce. E quanto exemplo de resiliência o ipê nos oferece. Mesmo com todas as adversidades, ele sempre volta, inteiro, premiando com potes de ouro qualquer passageiro desavisado. E um contraste inigualável de cores se faz. Consagrado como um símbolo de força e resistência, vem inspirar a transformação. Mesmo quando tudo está seco é aí que se dá a renovação. Salve ipê amarelo! Traz vida e encanto.  Povoa com quimera o que está obscuro e sem sentido. Tuas flores são como borboletas a passear no ar. E mesmo quando ficam cansadas se deitam no chão para enfeitar a paisagem.
Salve ipê amarelo!
Tua intensidade me espanta.
E mesmo com tua estada breve
deixa um rastro de reticências poéticas.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Briga de casal

Em tantos momentos me falta medo pra tanta coragem. Em outros a coragem é personagem oculto diante do medo que se avoluma. Medo e coragem caminham juntos e tão separados. Relação de ódio e amor. Mas é inegável admitir que precisamos dos dois. Os dois fios da navalha a escarafunchar nosso ego, nossa vaidade, nossa sabedoria. Enquanto um adormece expectativas, a outra planeja milagres. Medo é mistério, coragem é poesia. Coragem é habilidade, medo pode ser inaptidão. Medo é estado de alerta. Coragem atravessa a rua na contramão. Não nega de antemão. Vislumbra com paixão.  E o medo, tadinho, tão acanhadinho, só desorientação. Então chego à conclusão: medo e coragem habitam meu coração, minha essência, minhas percepções. Medo e coragem travam épicas batalhas diariamente nas veias da inquietude que percorrem meu ser. Quem perde, quem ganha? Eu! Sou o resultado extremado dessa briga de casal, que ora me aprisiona, ora me impulsiona pra frente. E sigo adiante, ora medo - angustiante, ora coragem - modo avante!
 
 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Eu não


Adormeço meus olhos cansaços.
Amanheço meus passos largos em terras fecundas.
Jogo todo o peso dos meus ombros no chão.
Porque ele é duro e aguenta.
Eu não.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Interrogações


E essa sensação de falta de controle que não passa? Impossível, no momento, desenhar, delinear, formatar, entender. Tudo tão vago. Tudo tão forte. Incompleto. Intenso. Confuso. É, o mundo gira com força bruta e não nos espera na estação. Na placa o aviso: embarque imediato em via de mão única. Destino: praça da vida. Modo: com aventura, vertigem e espanto. Não, não é um trem de passeio. É o trem da vida que segue e não faz retornos. Curioso perceber que, por vezes, seguimos com venda nos olhos. Sem entender muito. Apenas sentindo. E, por vezes, a lucidez nos incorpora tanto, que haja estômago para enxergar tanta realidade. O desembarque é imprevisto. Então só nos resta torcer que a viagem tenha sempre um saldo positivo. E o improvável e o provável entrem em comunhão. Mas o que fazer com tamanha sensação? E essa falta de controle que não passa?

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Leme pra que te quero.

 
 
E nós, de alma navegante, rogamos diariamente por um leme para nos orientar. Que seja preciso nas rotas a percorrer. E que transite entre a razão e a paixão, sem nos deixar à deriva de anseios, nem ancorados em uma única paisagem. Podem chegar bons ventos. Aproximem-se. Encham nosso peito de esperanças. Podem até nos levar a enfrentar tempestades, agitados mares, mas com a certeza de águas serenas no final.
Para um bom viajante, rotas.
Para minha nau, leme.
Para meu guia, você.
Içando velas e jogando ao mar esses pensamentos confusos.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Noites escuras


 
 
Pensando bem, tudo o que nos acontece tem um propósito bem maior do que a gente pode alcançar. Na hora não percebemos a grandiosidade. O entendimento às vezes é tardio. Mas quando ele chega é como alcançar a luz que esteve extinta por horas, dias, meses, anos. É como um clarão, uma explosão que expulsa dúvidas antigas e antigas palavras. Esse somatório de acontecimentos, bons e ruins, que chamamos vida, é que nos trouxe até aqui. Tantas vezes rindo, outras chorando. Mas cavucando nosso ser e desnudando nossa essência. Porque ela, nossa essência, precisa ser lapidada. Inúmeras camadas se sedimentam sobre ela diariamente. Frustração, dor, assustadoras sabotagens. Noites escuras. Mas só percorrendo nossas noites escuras é que podemos alcançar novos amanheceres. Que chegam cheios de esperança. E trazem um tudo novo por fazer. É dessa sabedoria que falo. Mesmo quando tudo parece fora do lugar, mesmo quando aceitar parece impossível, é preciso abrir a alma e respeitar o tempo. Em vez de procurar certezas, apenas semear espaços e diminuir apertos. No balanço final você vai perceber que noites escuras vêm somar. E só subtrai quem tem medo de enfrentar.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Era uma vez uma menina.


Era uma vez uma menina que entrou na minha vida. 
Ela tinha 4, quase 5 anos. E desde a primeira vez que a vi fiquei encantada. E foi recíproco. Aqueles olhinhos curiosos me olhavam de cima a baixo, como a desvendar uma novidade. E sempre havia muito carinho. Sempre havia muito sorriso. Sempre havia muitas perguntas. Inquieta e atrevida, não aceitava qualquer argumento. Conversar com ela era um ótimo exercício de afinar a retórica. Renovar-se. Oxigenar-se. Na sua infância foi plena, absoluta. Foi lindamente criança que tem asas nos pés. Adolesceu. Tornou-se jovem. E aquelas asas nos pés continuavam ali. Era como se parar fosse um crime. Num combustível de fazer inveja a qualquer um. Tinha pressa. E nem sabia porque. Estudos, viagens, projetos, peças, ensaios. Há pouco tempo fui vê-la no teatro. Sua atuação irretocável me comoveu muito. Uma atriz e tanto. Uma jovem e tanto. Que levantava bandeiras e lutava por um mundo melhor. Que não se calou. Que procurou fazer sua parte. E nos deixou muitas heranças. Muitas.
No último dia que nos vimos, com toda a sua doçura ela me disse:
- tia, eu cresci, mas pra mim você será sempre a tia Pat.
Os olhinhos brilhantes daquele dia não me saem da cabeça. Não sabíamos, nem eu, nem ela, mas aquela era uma despedida. Não posso mais vê-la com esses olhos terrenos. Mas continua forte toda essa Carolina que reverbera em mim com tanto impacto.
É, suas asas nos pés agora te levaram longe.
E sua passagem em nossas vidas nos fez muito melhores.
Pode ter certeza Carol.
Era uma vez uma menina que ficou na minha vida.

terça-feira, 5 de março de 2013

S I L Ê N C I O





Para mim não há maior espanto que o silêncio. Como pode ser grandioso. Como pode ser arrebatador. Assustador. Como pode ser doce e infinito enquanto dura. Como pode ser cruel. Como pode ser revigorante. Como pode ser êxtase. Um grito abafado. Mistério. Surpresa. Mas sempre espanto!
...
Silêncio.
...
No meu silêncio encontram-se vivências, plenitudes, saudades, comunhão, furacão, música, revelação, sossego, tormenta, confissão, sabedoria. E agora quero dizer. Em suas muitas faces prefiro o silêncio sábio. Aquele que cala quando o outro já sabe a resposta (repetir seria redundância). Aquele que perdura para eternizar o momento. Aquele que professa promessas. O silêncio que se torna santuário da prudência. Silêncio sábio esse.
...
Silêncio.
...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Semáforo



Tantas coisas estampadas no cenário da frente. Como um luminoso a piscar freneticamente tentando chamar atenção. Fica difícil passar incólume diante de tanta claridade. Sabe quando fica tudo esclarecido? E nos cabe apenas decidir qual a cor do semáforo vamos perseguir. Preferindo o vermelho e ficando exatamente onde está. Lugar cômodo, mas de poucos cômodos. Com perspectivas previsíveis. Ou quem sabe seguindo em estado de alerta eternamente, com realizações medianas. Amarelando emoções. Mas também podemos optar por seguir. Destemidos em terreno desconhecido, mas fascinante. Verdes brados retumbantes. Onde o inusitado pode habitar novas estradas e a tão sonhada plenitude venha nos visitar.
Escolhas. Sempre escolhas...
É, seja qual for a sua escolha, dê a si, a sua preferência.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O mundo sem rodinhas

E aconteceu... ele andou de bicicleta sem as rodinhas de trás. Que emocionante ver a emoção do meu filho. Queria tanto e conseguiu! No primeiro treino, amparado e impulsionado pelo amoroso pai, foi embora... sozinho...feliz...confiante...emocionado. Quanta vibração. E como foi contagiante vê-lo pulando de alegria por tão nova e deliciosa conquista. Agora ele sente o mundo diferente. Quando menos esperou, estava equilibrado na bicicleta, sozinho, sem notar que não precisava mais das rodinhas de trás. Ele estava pronto. E as rodinhas estavam ali apenas para que ele soubesse. Apenas para, como tão sabiamente eu li num texto outro dia, que ele " fizesse da serenidade um ponto de partida."
...
Na vida é assim.
Quando queremos muito alguma coisa é porque estamos prontos.
Prontos para enfrentar os desafios, experimentar emoções novas, encarar as dificuldades do por vir.
...
E que a serenidade seja sempre o ponto de partida.