quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Um encontro não marcado


Quando ainda era adolescente me aconteceu um fato marcante. Tão marcante que até hoje quando lembro sinto o peito apertar e me emociono. 
Hoje foi assim. Lembrei-me do meu avô. Lembrei-me daquele dia.
Passeava eu com meu avô num fim de tarde. O sol, já querendo se pôr, ainda nos esquentava o corpo. 
E depois descobri que a alma também. 
Meu avô já tinha idade avançada e suas pernas começavam a lhe faltar. Precisava de alguém que o acompanhasse nas breves saídas à rua. Aquele passeio era uma oportunidade de vislumbrar o lado de fora de casa, arejar a "cuca", ver outras cores. A tarde estava linda naquela superquadra superarborizada de Brasília. Já tínhamos conversado e naquele momento apenas contemplávamos o caminho. Foi quando passou um outro senhor por nós. Um senhor como meu avô. Idoso, com dificuldade de andar, mas, infelizmente e provavelmente procurando naqueles raios de sol um calor que não experimentava em família. 
É, ele andava só. Com dificuldade até para falar. Mas falou. Fomos interpelados por ele e paramos. Ele literalmente bateu palmas para o que viu e disse que feliz e completo era meu avô porque tinha alguém que podia lhe dar o braço e o afeto naquele momento. Meu coração sangra só de lembrar. Seus olhinhos miúdos encheram d'água. Os meus também. Sim, ele estava solitário, magoado, triste mesmo. 
Fico pensando o quanto é difícil envelhecer. Ver nosso vigor físico ficando para trás, nossas capacidades se extinguindo, vendo um futuro sem futuro e queimando no peito tantas vontades ainda.
Depois do acontecido, olhei nos olhos do meu avô e lhe disse que feliz era eu por ser depositária da confiança dele em me dar os braços. 
Hoje estava andando num fim de tarde numa superquadra superaborizada de Brasília e me voltou à cabeça o acontecido. Revivi por momentos.
Meu avô e aquele senhor hoje estão muito melhores que nós, creio eu.
E a lição daquele pequeno fragmento da vida deles, num encontro não marcado num fim de tarde, eu levo pra toda a vida.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Ensaio



Há muitos anos tenho o hábito de colocar no papel meus pensamentos. Passados os anos, o papel perdeu seu sentido e tais pensamentos foram parar na telinha do computador. Mas tudo começa igual: uma folha branca, uma tela vazia. E aí começam a pipocar sentimentos e verdades que insistem em se eternizar. Ganham forma, ganham força. E muitas vezes ganham um sentido maior do que realmente tem. Mas é daí que provém a mágica dessa arte. Escrever é viver o sentido íntimo da palavra. É empalar no acúleo máximo dos meus sentidos. É delinear emoções. É colorir o cotidiano. É reinventar o óbvio. É maquiar o feio. É criar o improvável, copiar o provável. É também mostrar a realidade. Nua e tua. É reviver cada momento esquecido, ora vivido e daqui pra diante sacramentado. Na verdade, é um ensaio. Ensaio de devaneios, verdades, bobagens. Apenas ensaio... E ponto.

Recados da vida


Que a vida manda recados é certo. E o que acontece quando não entendemos sua língua? A gente reclama que alguns acontecimentos insistem em aparecer na nossa vida. Sempre a mesma dor. Pessoas que se parecem tanto e que nos atormentam. Dificuldade eterna em conseguir tal coisa. Vamos analisar. Quando temos vivências negativas e repetidas é porque algo está passando desapercebido por nós. Não estamos sendo bons alunos. Estamos deixando passar lições valiosas. Então vem a vida, generosa como é, e nos esfrega de novo na fuça aquela questão. Ei, presta atenção, diz a vida. Enquanto permanecer de olhos vendados, vou ter que te mostrar de novo, até você entender. Entendeu?

***

Quero muito entender. Subir um degrau.
A partir de hoje sou aprendiz atenta e concentrada.
Vamos lá vida, quero passar de ano.
Presente.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Limpando a poeira



Então vamos lá. Vamos soprar as cinzas, retirar as teias, limpar a poeira e me fazer de novo em palavras. 
Muitas vezes é necessário dar uma escapulida mental (até de nós mesmos), para de fora, poder enxergar o cenário com novas lentes. E nessa breve estiagem, que mais me pareceu uma imensidão, novos tons surgiram na minha caixa de lápis de cor. Pra onde me viro encontro aprendizado. Com alegrias, com dores, com sonhos, dissabores e com amores - de todos os tipos. Sábio é aquele que não procura um caminho de flores. Não, esse não existe. Talvez o melhor caminho seja aquele feito de inquietude, garra, conquistas e, sobretudo, fé. Fé em si mesmo e no outro. Fé na sua luta diária e que ninguém a critique, só você sabe o que passa. Fé nos sentimentos superiores, que nos impulsionam para um patamar fluídico de boas vibrações. O restante vem por atração. Essa tal lei da atração que nos coloca frente a frente com aquilo que nós construimos em nosso campo energético e sintonizamos. 
Então vamos lá. Vamos sintonizar amor, serenidade, profundidade.
Vamos sintonizar a poesia, onde quer que ela esteja. E olha que ela está bem aí na sua frente.
Vamos sintonizar nossa alma com a luz.
Pode entrar.
Essa colcha de retalhos também é sua.