segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Sobre o silêncio.

Para mim não há maior espanto que o silêncio. Como pode ser grandioso. Como pode ser arrebatador. Assustador. Como pode ser doce e infinito enquanto dura. Como pode ser cruel. Como pode ser revigorante. Como pode ser êxtase. Um grito abafado. Mistério. Surpresa. Mas sempre espanto!
...
Silêncio.
...
No meu silêncio encontram-se vivências, plenitudes, saudades, comunhão, furacão, música, revelação, sossego, tormenta, confissão, sabedoria. E agora quero dizer. Em suas muitas faces prefiro o silêncio sábio. Aquele que cala quando o outro já sabe a resposta (repetir seria redundância). Aquele que perdura para eternizar o momento. Aquele que professa promessas. O silêncio que se torna santuário da prudência. Silêncio sábio esse.
...
Silêncio.
...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Hoje eu vou.

Hoje eu vou. Vou acordar cedinho e espreguiçar. Espreguiçar. Espreguiçar. E ganhar um abraço comprido. Vou ver meus pequenos dormindo e imaginar seus sonhos coloridos, com piscina de gelatina e chuva de sorvete. Vou degustar meu café da manhã sem olhar no relógio. Vou sair de casa e olhar o céu. Vou me contagiar pelo verde das árvores e vou levar o canto dos passarinhos como meu "bg" do dia. Vou encontrar pessoas pelas ruas e vou sorrir. Sim, vou espalhar sorrisos. Tantos. Muitos. Vários. Até que uma onda bem grande deles se forme. E invada outros mares. Outros corações. Hoje eu vou ligar pra uma amiga que não falo tem muito tempo. Vamos relembrar. Nos relembrar. Vamos sentir o gosto da velhavidanova feita de sonhos bem passados. Hoje eu vou ajudar um necessitado. E digo, ajudar de verdade. Hoje eu vou ler um pouco daquele livro esquecido na minha gaveta. Hoje vou arrumar minhas gavetas. Jogar fora o que não preciso, eternizar o que eu amo. Hoje vou me deliciar com o que meu amigo tem pra me contar. Vou atender o celular sem pressa para desligar.  Hoje eu não quero reclamações. Nem cobranças. Hoje quero um dia florido. Iluminado. Por mais que a chuva insista em cair. Hoje eu vou ver a chuva e agradecer por ela. Hoje vou fazer respiração abdominal. Vou meditar. Hoje eu vou aplaudir o que é bonito. Hoje eu vou dizer não. Sem culpa. Hoje eu vou maquiada de mim mesma. Sem esconder expressões e sim oferecer impressões. Hoje eu vou celebrar a vida. Com você.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Inimaginável

Quando pensei em me tornar mãe jamais poderia saber o que estava por vir. Imaginava sim. Imaginava um estado de graça, descrito por tantos, uma alegria constante, uma vida renovada. Imaginava dias coloridos e muitos sorrisos. Mas tudo isso foi pouco. Pouco diante da experiência mais incrível de minha vida. Ser mãe é para mim a melhor escola que eu já tive. Tenho os melhores professores da minha vida dentro da minha casa. São dois. E são únicos. E são fantásticos. E são incansáveis na tarefa de me melhorar. E são mestres da alegria. E são doutores do amor. É diante deles que me curvo todos os dias para agradecer o dia que amanhece, o alimento na mesa, a saúde física e mental, o desejo de melhorar, a luta diária, os acertos e os erros também. Foram eles que me ensinaram a ser criança de novo. Aquela criança que estava esquecida e que tinha perdido a espontaneidade há tanto tempo. Graças a eles, hoje cumprimento árvores, observo o fantástico mundo das formigas, visto fantasias inusitadas, tenho minhas mãos encharcadas de tinta, em vez de apenas usá-las na paleta de cores do computador. Graças a eles voltei a olhar o céu para identificar figuras nas nuvens. Que delícia. Graças aos meus doutores tenho asas nos pés. Visito Marte uma vez ao dia. Jogo futebol com bola de meia. Faço mergulho com garrafa pet. Pizza com disco vinil. Canto alto, bem alto, no carro e no chuveiro, fazendo coro com meus maestros. E não precisamos de nenhum instrumento musical para que nossa orquestra seja perfeita. Sou garçonete. Caminhoneira. Sou frentista. Bancária. Jornalista. E fazemos reportagens especiais, campanhas publicitárias. Nossos mares têm tesouros. Eles são piratas, peixes, tubarões. Sou sereia. Sou princesa. Na verdade, a rainha da casa. Sou MÃE. E nunca um título me fez tão feliz. Sou professora. Sou uma aluna dedicada. Ávida por mais. Por tudo mais que eles puderem me oferecer. E ensinar. Com a maestria de poucos. Para a alegria de muitos. Sou ávida por tudo de bom que minha imaginação ainda não conseguiu imaginar. Por tudo o que o poderoso e milagroso processo da fecundação não lhes impeça de ser.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Sobre a amizade.

Tenho amigos. Que alegria. Tenho tesouros. Que certeza.
Quando o tema é amizade todo o mundo quer falar um pouco. Coisa mais gostosa poder dividir seu momento com um amigo querido. Coisa mais gostosa poder contar com uma pessoa mesmo quando você acha que não pode. Amigo verdadeiro é assim: pode ter uma década que vocês não se vêem, mas basta um encontro e tudo, tudo volta a ser exatamente como antes. Como se aquele intervalo não existisse. Como se aquele hiato fosse um sopro falho de calor. Sem importância. Pois dali pra frente a cumplicidade continua, as afinidades afloram e a delícia e a dor de compartilharem bons e maus momentos, os unem cada vez mais.
Tem amigo que passa a mão na nossa cabeça apoiando praticamente todos nossos atos. E ainda briga com o mundo pra te defender.
Tem amigo que dá bronca. Não engole sapo e discorda mesmo. Afinal, é seu amigo e tem todo o direito de meter a colher no pote.
Tem amigo que orienta. Te ama tanto que não quer que você faça bobagem ou se envolva com gente indevida.
Tem amigo que fica quietinho, na dele, só te observando e aí quando você precisa, antes mesmo que você solicite, ele já te surpreende com sua presença.
Tem amigo que vira marido. Tá ali sempre e um dia você vê ele diferente.
Tem amigo que é ex-marido. A relação muda tanto que é melhor virar amigo.
Tem amigo que é do reino animal, sem trocadilhos.
Tem amigo que te liga todo dia, quer saber tudo e tudo de novo, como se vocês não se vissem há 10 anos.
Tem amigo que é só pra bagunça. Bagaceira mesmo. Aquele que dispensa julgamentos e tá do seu lado pra farra que vier.
Tem amigo que não te liga todo dia. Aliás, não te liga nunca. E você até se chateia. Acha que é descaso. Mas não é não. Ele só não liga pra essas formalidades. Mas tá ali. É só precisar.
Tem amigo à 1ª vista. É tem sim. Aquele que desde o primeiro momento você já sabe que será para sempre.
E tem amigo que é só amor. Um pouco de todos esses juntos. Uma miscelânea contraditória e apaixonada. Um sentimento vitalício.


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Então tá.

Então tá combinado. Ser o melhor, o mais correto, o mais sábio, o mais politicamente correto, o mais perfeito (que redundância!). Aonde vamos parar assim? Com tantas cobranças, dos outros e, muitas vezes, mais nossas que dos outros, ficamos fadados à frustração. Não, não precisamos ser os melhores. Precisamos ser mais felizes. Felicidade que enche nosso espírito de satisfação, que nos engrandece. Mas felicidade que também está próxima da tristeza. Quantos momentos tristes precisamos passar para nos dar conta que minutos antes éramos as pessoas mais felizes do mundo. É, tem hora que só o fundo do poço nos faz enxergar o céu. Na verdade, o abismo explica o pássaro. E tudo passa a fazer sentido. Tudo tem que ter seu lugar certo. E o tamanho certo também. Inclusive a cobrança. É tão fácil cobrar dos outros. É tão fácil esperar do próximo, aquilo que nós mesmos podemos construir. Tem também a autocobrança. E nisso me incluo. Sem dó, nem piedade. Sem dúvida, sou minha principal algoz. Que exercício mudar isso. Tarefa para poucos. A verdadeira terapia da aceitação. Aceite-se como você é. Seu limite. Seu desejo. Sua beleza. Seu lado obscuro. Aquele que você esconde tanto que provavelmente ninguém saiba. Mas você sabe. Aceite. Aceite-se. E você estará mais ao seu alcance. Ao seu próprio alcance. A melhor pessoa, o melhor profissional, o melhor pai (e a melhor mãe), o melhor amigo, o melhor filho, tudo isso pode ser um título pesado demais pra quem quer apenas ser feliz. E fazer o outro feliz. Ao longo da vida aprendi que a felicidade está em ser a felicidade de alguém. Essa cobrança, querendo pode chamar de competição, só faz o pulso acelerar, a frustração aumentar e nossos sentidos perderem de vez o sentido.
Então tá combinado. Menos cobrança para você. E para mim. E para o mundo. Mais dias normais, mais dúvidas, mais "não sei", mais unhas por fazer meninas, mais retiros, mais tempos perdidos fazendo nada (ou talvez tudo), mais olheiras provocadas por um belo filme visto de madrugada, mais imprevistos (que também podem ser deliciosos), mais um pouco de tudo aquilo que a cobrança "te" impede de existir.
Não é a cobrança que te faz "o cara" (ou "a cara").
É a felicidade que te faz diferente.
É a felicidade que te veste melhor.
É a felicidade que te traz as melhores palavras.
É a felicidade que coloca um holofote gigante em cima de você.

Então tá combinado.
Pra começar, um dia sem cobrança.
Então tá.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Resiliência

Lembro-me bem da primeira vez que fui apresentada a esse termo. Havia uma hora que falava sem parar frente a uma psicóloga. Na verdade era a primeira vez que estava ali, naquele consultório que não me era familiar, mas cujas circunstâncias me levaram lá. E então, depois de vomitar tudo que me engasgava, eu ouço apenas: resiliência! Num tom seco e curto. R-E-S-I-L-I-Ê-N-C-I-A. Rapidamente parei para pensar se tudo aquilo que eu acabara de falar sofridamente se resumia a um único termo. Mas antes mesmo que pudesse exteriorizar minha interrogação me veio uma ordem: - Essa é sua tarefa de casa. Pesquise, entenda, compreenda a resiliência. E lá fui eu então me ocupar de minha nova tarefa.
"A psicologia tomou essa imagem emprestada da física, definindo resiliência como a capacidade do indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse, etc. No campo das relações humanas, é compreendido como um processo que excede a simples superação de experiências, já que permite ao indivíduo sair fortalecido por elas, superar, o que necessariamente promoveria a saúde mental."
Então era isso. Quanto mais compreendia o significado daquele termo, mais ele se amplificava e ecoava dentro de mim. Não basta superar os obstáculos, é preciso ser mais forte do que antes. Antes daquela tempestade, avalanche, enchente, tormenta. Pode chamar como quiser o seu problema. Porque, afinal de contas, ele é seu, e só você sabe o peso que ele te traz. Entendi também que, quanto maior o problema, mais fortalecido se pode sair do embaraço. Mas não é uma simples tarefa. A resiliência tem e deve ser conquistada por nós. Passei então a me enamorar do termo. Ficamos namorando um bom tempo. Sabe início de namoro, quando você quer saber o máximo do outro? Foi assim. Descobri que uma pessoa resiliente não se abate facilmente, usa toda a sua energia para lutar e, o melhor, não culpa ninguém pelos seus fracassos. Isso para mim foi o melhor. E o casamento aconteceu. Meu e da resiliência. Busco ela diariamente. Trago-a para o meu convívio sempre que preciso. Sinto que minha capacidade de envergadura aumentou. E o aprendizado obtido com os obstáculos tem sido revigorante. E quando me lembro daquele dia que ouvi pela primeira vez 'resiliência', e que já faz tanto tempo, minha alma sorri. Porque hoje sou mais plena que antes. Uma poetisa que tanto amo, há muito tempo, muito antes disso, já me dava esse precioso recado: R-E-S-I-L-I-Ê-N-C-I-A.

"Aprendi com a primavera a cortar-me e a voltar sempre inteira".

Quanta resiliência Cecília!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

'Marcaquices'

Marco, 2 anos, meu filho mais novo, me pediu para comer pipoca.
Disse a ele: - Vem aqui que eu vou te mostrar como faz pipoca de microondas.
- Mamãe, mamãe! Gritou ele.
- Que foi, meu filho?
- A pipoca tá soltando pum!

Ai que delícia ser criança.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Pausa 2

Em meio à saída do colégio, com 2 filhos a tiracolo, mais mochilas, lancheiras, bola, bolsa... recebo uma doce ligação de uma amiga: - Você ainda está aqui no colégio? - Sim, disse eu. Havia 15 minutos que tentava inutilmente sair de lá.  - Vamos fazer um passeio com as crianças agora? Pausa. Tinha inúmeros motivos para não ir: fim de tarde, tarefa escolar do mais velho por fazer, cansaço, inúmeras pendências em casa, enfim... ficaria um bom tempo aqui citando minhas desculpas. Mas parei e pensei na proposta que eu mesma me fiz. Pausa. Convite aceito. E fomos felizes, eu mais duas amigas queridíssimas e mais nossos pequenos, grandiosos e felizes filhos. Cinco crianças e uma diversidade ímpar. O local escolhido foi especial. Aproveitando o horário de verão, aproveitamos aquele fim de sol ávidas por conversar. Nós, as mães, também queríamos pausa. Um pouco de frescor diante de um cotidiano puxado e que às vezes assola. Mas confesso, mães de pequenos como somos, pouco tempo  nos sobrou. Faltou tempo para aquela conversa mais profunda, mas sobraram sorrisos, nossos e das crianças. Essas então é possível imaginar. Soltos, como a própria natureza lhes faz, curtiram cada segundo daquele passeio inusitado e delicioso. O parque foi o grande convite para soltarem os 'bichos', que pasmem, insistiam em habitar seus seres, mesmo depois de uma tarde inteira de aula. Haja energia. Deles e ... nossa. No final de tudo, após um delicioso lanche, uns chopes (ninguém é de ferro) e muita bagunça, o saldo disso tudo foi o melhor: poder compartilhar instantes tão singelos, tão enriquecedores e provar do êxtase de saber que podemos fazer diferente. Mesmo que seja fazer diferente um final de terça-feira, que vinha bem sem graça, e, de repente ficou tão colorida.  Às minhas amigas, obrigada. Aos nossos filhos: muito obrigada! Penso que sem eles isso não teria sido possível.
E que mais pausas venham...

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Pausa

Às vezes nos deparamos com algo que nos paralisa. Um acontecimento, um gesto, uma palavra. A vida é assim, feita de sustos. Um susto é uma pausa. É uma respiração curta. E sustos podem ser bons ou ruins, mas o importante é que nos fazem parar para pensar. Porque me assustei?
Mas hoje o susto foi bom. Foi feito de coisas bonitas que os outros escrevem e que para sempre passam a fazer parte de nós. Sabe aquele texto que te toca profundamente? Sabe aquelas palavras que te fazem cócegas na alma? Dizendo assim: ei, desperta, presta atenção no que você acabou de ler. Com certeza não foi escrito para você, mas com certeza vai te acompanhar por uns dias, cutucando o seu inconsciente, inquietando o seu pensamento. Para quem está sempre alerta, esses sustos bons são sempre bem-vindos.  E sempre percebidos. Fiquei bastante emocionada com um texto que falava de 'pausas'. E para quem tem uma vida onde a pausa é escassa, parei para pensar nela.
Pausa.
Como às vezes ela me escapa.
Susto.
E a reflexão me mostrou: a beleza da vida está nas pausas...

Então, pausa para você também.

Pausa.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Retalhos

Fragmentos. Pedaços. Momentos. Instantes. Talhos.
Uma colcha que vai sendo confeccionada aos poucos, tecida com preciosas impressões, costurada com valiosas e precisas linhas. Linhas do tempo. Tempo que soa, ecoa, e me prova que nada é à toa. Uma riqueza de detalhes que juntos vão desenhando uma história. História de muitas gentes, relatos apaixonados, falas engasgadas, verdades vomitadas. Luxo e lixo. Escandalosas verdades. Instigantes reportagens.
Sim, retalhos.
E assim eu sigo, coração nos olhos...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Ensaio.

Há muitos anos tenho o hábito de colocar no papel meus pensamentos. Passados os anos, o papel perdeu seu sentido e tais pensamentos foram parar na telinha do computador. Mas tudo começa igual: uma folha branca, uma tela vazia. E aí começam a pipocar sentimentos e verdades que insistem em se eternizar. Ganham forma, ganham força. E muitas vezes ganham um sentido maior do que realmente tem. Mas é daí que provém a mágica dessa arte. Escrever é viver o sentido íntimo da palavra. É empalar no acúleo máximo dos meus sentidos. É delinear emoções. É colorir o cotidiano. É reinventar o óbvio. É maquiar o feio. É criar o improvável, copiar o provável. É também mostrar a realidade. Nua e tua. É reviver cada momento esquecido, ora vivido e daqui pra diante sacramentado. Na verdade, é um ensaio. Ensaio de devaneios, verdades, bobagens.
Apenas ensaio...E ponto.